Neste momento, o cacau está em alta na Bolsa de Valores de Nova York e a saca de 60 kg está sendo comercializada a até R$ 2.300,00 (cotação 18 de março de 2024) pelo produtor capixaba às moageiras. Considerando o acumulado do ano, desde abril de 2023 até agora, houve aumento do preço em 213,97%. A tendência para 2024 é de que o preço continue elevado, se não houver alteração na oferta atual do cacau. Os dados são da Associação dos Cacauicultores do Espírito Santo (Acau).
Segundo o secretário Executivo da Acau, André Luiz Carvalho Scampini, três fatores têm impactado o mercado para essa disparada de preços. Um dos maiores produtores mundiais de cacau, Costa do Marfim e Gana, tiveram problemas climáticos e com pragas nas lavouras, caindo a produção. O Brasil também foi afetado devido à pouca chuva. Além disso, há um aumento de demanda especialmente na Ásia que está consumindo mais o cacau.
“Esses fatores reduziram a oferta no mercado global. O preço, que vinha subindo constantemente, sofreu um acréscimo dramático que se tornou ainda maior em janeiro de 2024, pois as grandes indústrias e fábricas de chocolate esgotaram seus estoques. Agora, existe uma escassez real de cacau. Os principais produtores não têm mais cacau e eles estão buscando no mercado, fato que está impulsionando o preço da commodity internacionalmente”, disse o secretário Executivo da Acau.
O mercado aquecido tem incentivado produtores de diversas regiões a investirem no cultivo da fruta. O empresário Emir de Macedo Gomes Filho, da Fazenda São Luiz, pontua que a alta nos preços sempre gera um efeito psicológico no produtor de que os bons preços vão continuar. Porém, destaca que é preciso trabalhar de forma consciente e profissional, não somente impulsionado pela alta que pode não se manter nesse mercado de commodity que oscila muito.
“Retomar os investimentos, cuidar bem da plantação para aumentar sua produção e produtividade e diversificar, pois, o monocultivo não é um bom caminho. É preciso aproveitar melhor as possibilidades que o fruto do cacau nos proporciona, trabalhando com os derivados para agregar valor ao seu produto”, relata o produtor.
Todo lado positivo, requer atenção para possíveis impactos no futuro na produção de cacau fino e de chocolate, por exemplo, para os empreendedores. Entusiasta com a cultura, Emir pontua que os produtores estão vivendo um momento de euforia, mas que preocupa, ao mesmo tempo, haja visto que essa equiparação de preços do cacau bulk com o cacau fino, pode fazer com que o produtor entregue toda sua produção para as indústrias.
“O cacau bulk dá muito menos trabalho e menos despesas para fazer. Nesse momento vai ganhar mais, porém, isso pode provocar uma quebradeira nesse mercado bean to bar (cacau fino), que é um mercado justo, sempre remunera bem e preserva a identidade do produtor. O cacauicultor precisa ter maturidade e sensibilidade de não deixar esse mercado acabar para não sofrer duras consequências no futuro. Temos que procurar buscar o equilíbrio nas relações comerciais e mantermos vivo esse nicho de mercado tão importante para a cadeia produtiva”, alerta Emir.
Negociação
Apesar dos valores praticados na Bolsa de Nova York, as altas aplicadas não têm sido proporcionais aos preços pagos ao produtor. “A última vez que me foi passado o preço ofertado por uma moageira local não estava igual ao de Nova York. Está havendo uma tendência de oferecer um preço abaixo, que já é de conhecimento dos produtores que vão partir para negociação de suas amêndoas”, ressaltou o secretário Executivo da Associação dos Cacauicultores do Espírito Santo (Acau), André Luiz Carvalho Scampini.
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