Pesquisa inédita do Sebrae/ES revela que 57% das mulheres deixaram o emprego para empreender

Levantamento revela o perfil das empreendedoras capixabas, suas motivações e os principais desafios enfrentados por elas ao abrir um negócio

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Foto: Divulgação/ Instagram

O desejo de passar mais tempo com a família, a rotina flexível, a possibilidade de ganhar mais dinheiro, a frustração com o mercado de trabalho tradicional ou a realização de um sonho antigo. São inúmeros os motivos que levam as mulheres a abandonar o emprego formal, com carteira assinada, para empreender.

Para entender melhor o perfil dessas mulheres, além do contexto social e econômico em que estão inseridas, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Espírito Santo (Sebrae/ES) realizou, durante os últimos três meses, a pesquisa Empreendedoras Capixabas. O estudo, que é inédito, mostra que 57,5% das empreendedoras consultadas deixaram o regime CLT para investir em um negócio próprio.

A vontade de fazer o que gosta, a percepção de uma oportunidade e a busca por autonomia estão entre os motivos mais citados pelas entrevistadas para deixar o emprego formal para trás. Atualmente, o Espírito Santo tem mais de 190 mil mulheres comandando seus próprios negócios, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Esse contingente feminino representa 32% do universo total de empreendedores.

“É importante saber quem são essas mulheres, suas motivações e os desafios que enfrentam para administrar um negócio. Por isso, o Sebrae/ES decidiu ir a fundo nessa pesquisa com dados inéditos sobre o empreendedorismo feminino no Espírito Santo. Esse segmento tem um forte impacto em diversos setores da economia, e a pesquisa pode ajudar na formulação de políticas públicas que o fortaleçam”, explica Andrea Gama, coordenadora estadual do Sebrae Delas.

Quem são elas?

A pesquisa Empreendedoras Capixabas mostra que, entre as entrevistadas, 85,6% gerenciam seus negócios sozinhas, sendo que estão mais presentes nos setores de Serviços (54,1%) e Comércio (38,9%). Além disso, 53,9% das empreendedoras ouvidas estão registradas como MEI, e 21,91% estão à frente de microempresas ou empresas de pequeno porte. Outras 22,6% operam na informalidade, sem CNPJ.

No que diz respeito ao tempo de experiência, 59% das empreendedoras entrevistadas têm até cinco anos de empresa, e cerca de 24% atuam como empresárias há mais de 10 anos. Aproximadamente 35% delas possuem outro trabalho além do próprio negócio.

Demograficamente, a pesquisa indica que a maioria das empreendedoras (64,6%) tem entre 30 e 49 anos, e aproximadamente 55% delas são pardas ou pretas.

Mais tempo para a família

Jessyca Guasti, 31 anos, trabalhava como assistente administrativo, e a produção de bolos e sobremesas era apenas uma renda extra, sendo os clientes os próprios colegas de trabalho. A escolha pelo empreendedorismo aconteceu depois de se tornar mãe, durante o período da pandemia da covid.

“Engravidei e tive dificuldades em colocar minha bebê na creche. Optei por sair do trabalho para cuidar dela. Continuei com as minhas encomendas, em casa, e depois de um tempo, em 2022, surgiu a oportunidade de ter uma loja física”, conta.

Hoje ela se divide entre o atendimento na Jessycakes, localizada em Laranjeiras, na Serra, e a família. “Não é fácil empreender. As responsabilidades são maiores, mas os rendimentos, incertos. A vantagem é poder trabalhar com aquilo que realmente gosto, ter autonomia para tomar decisões e a flexibilidade de horários”.

Segundo a pesquisa Empreendedoras Capixabas, 73% das mulheres que comandam seus negócios têm filhos, sendo que cerca de 60% têm dois ou mais. Além disso, a maioria é casada ou tem união estável.

Mesmo com perrengue, paixão virou negócio

Lorena Rocon, 37, trabalhava há sete anos na mesma empresa, no setor de marketing, quando decidiu pedir demissão para investir em um food truck de sorvete na chapa, o Rollô, em 2020. “Eu me joguei na hora errada. Pedi demissão no dia 17 de março, no dia seguinte fechou tudo por conta da pandemia. Tive que dar três passos para trás”, relembra.

Sem poder colocar um food truck na rua, ela trabalhou por mais dois anos em outras empresas até que, novamente, decidiu se arriscar. “Eu mantinha a ideia de ter um negócio próprio desde 2017, quando me apaixonei pelo sorvete na chapa. Mas eu sempre ponderei os riscos”, explica.

No final de 2022, Lorena fez um plano de negócios, comprou a máquina para a produção de sorvete, testou bastante as receitas e, em fevereiro de 2023, colocou o trailer na rua. No entanto, os perrengues não deram trégua. Dificuldade para encontrar um espaço público viável e a falta de energia atrasaram novamente os planos dela.

“Eu tinha ideia do que era ter uma empresa, mas não um trailer. Tive muitos problemas no começo e só consegui trabalhar realmente, sem interrupções, a partir de dezembro. É preciso ser muito resiliente, ter muita vontade de ir adiante”, revela a empresária.

Superados os primeiros desafios, Lorena hoje conta com dois ajudantes para dar conta das demandas do Rollô, que fica em Morada de Laranjeiras, e já almeja levar o sorvete na chapa para os eventos.

Falta de recurso é o principal desafio

Os desafios descritos por Lorena também foram abordados com as mulheres ouvidas na pesquisa Empreendedoras Capixabas. Para 49% delas, a principal dificuldade para abrir o próprio negócio é a falta de recursos financeiros. Já a falta de experiência em gestão também foi mencionada por cerca de um terço das entrevistadas.

Outras dificuldades mencionadas foram: insegurança emocional, necessidade de conciliar atividades profissionais e familiares, desconhecimento do mercado, críticas e pouco apoio familiar, além de acesso restrito ao crédito.

Para as mulheres que pensam em empreender, a empresária destaca a importância de se investir em um bom plano de negócios. “Não é sobre traçar um caminho reto e seguir. O plano, na verdade, te dá uma perspectiva sobre como seguir, uma segurança para lidar com as dificuldades que são comuns. É como uma corda em que você se segura, mesmo que o caminho curve às vezes”.

Para comemorar e empreender no mês da Mulher

Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, no dia 8 de março, o Sebrae/ES preparou uma programação especial voltada para as empreendedoras durante todo o mês de março. São cursos presenciais, palestras e oficinas gratuitas em diversos municípios do estado.

Para conferir a programação, basta acessar o link https://es.loja.sebrae.com.br/sebrae-delas.

Assessoria Sebrae