Produtores reclamam de baixa indenização para a construção de barragem no rio Jucu, no ES

Eles afirmam que não são contra a construção da barragem, mas que o valor oferecido pela Cesan está abaixo do mercado

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Foto: Vinícius Gonçalves/ TV Gazeta

Produtores rurais de Viana e Domingos Martins, no Espírito Santo, estão insatisfeitos com a baixa indenização oferecida por suas terras para a construção de uma barragem no Rio Jucu. Há casos em que foi oferecido menos de R$ 2 pelo metro quadrado pela desapropriação, quando o valor de mercado chega a R$ 8.

Ao todo, 72 propriedades serão desapropriadas para construir a barragem do Rio Jucu. Elas ficam em uma área na divisa entre Viana e Domingos Martins. O reservatório vai ocupar 108 hectares e vai ter a capacidade de armazenar 20 bilhões de litros de água.

O produtor rural Manoel Martins da Rocha é dono de uma das áreas desapropriadas. A terra fértil é cortada pelo Rio Jucu. No local, ele plantou maracujá, banana, palmito pupunha, mandioca, tomate e quiabo.

Seu Manoel esperava viver dessa terra o resto da vida, mas em breve toda essa área será alagada. Ele contou que ficou surpreso quando soube que a terra seria desapropriada.

“Cheguei aqui, tinha um rapaz medindo. Eu perguntei o que estava acontecendo, eles perguntaram se eu não estava sabendo que ali seria a barragem. Eu sei que a barragem é lá embaixo e não aqui em cima. Ele pegou meu telefone e passou para o patrão dele, que ligou para mim. Dizendo que a minha área seria ocupada e eu ia pagar o valor que valesse e que não era para continuar trabalhando que ele não se responsabilizava”, disse.

Manoel comprou a propriedade há cinco anos que, na época, não tinha nada. O local estava abandonado e por isso ele fez um empréstimo para construir uma estufa e comprar as mangueiras de irrigação. Ele deve mais de R$ 100 mil ao banco. Com o dinheiro oferecido na desapropriação, que foi de R$ 96 mil, ele não paga nem as dívidas.

A estufa ficou pela metade, porque nem terminou para não ter mais prejuízo. O restante da lona e o adubo que seria usado na lavoura também estão parados.

O produtor também já começou a abandonar a lavoura, está colhendo o que dá, mas sabe que em breve terá que deixar a terra.

“Isso aqui eu estou colhendo, mas nem limpei, deixei no mato porque eu vou gastar mais serviço. Estou colhendo assim, mas isso poderia dar muito mais. Deus esses quiabos ruins. Estou colhendo só para não perder. Não tem nem como eu procurar outro lugar com o valor que ofereceram”, contou Manoel.
Plantações abandonadas

Bem perto do seu Manoel está a propriedade de Ademir Helmer. Durante 30 anos, ele morou às margens do Rio Jucu.

Após a notícia da construção da barragem, abandonou as plantações. Ao todo são 12 hectares. A Cesan ofereceu R$ 265 mil na desapropriação, uma média de R$ 2,20 por metro quadrado.

Para Ademir, o valor é muito abaixo das propostas que ele já recebeu pela propriedade.

“Vieram com uma proposta em 265 mil para desapropriar a gente aqui, deixei de vender por R$ 800 mil, R$ 1 milhão. E eu não vendi”, lembrou.

Quem também está insatisfeito é o piscicultor Júlio César Velten. Ele tinha 72 tanques de peixes ornamentais na terra cortada pelo Rio Jucu e teve que abandonar tudo após o decreto do governo declarando a terra de utilidade pública.

“A gente decidiu parar, porque a gente investe em compra de matrizes e equipamentos R$ 30 mil em cada ciclo, dá três ciclos por ano. Como a gente ia investir R$ 30 mil e a promessa é de que a barragem ia ser construída em breve no terreno, resolvemos não investir mais. A gente parou e esperou, só que o esperou já tem dois anos”, relatou.

O valor da ação de desapropriação de Júlio é de R$ 94 mil. A área desapropriada tem quase sete hectares, o que dá uma média de R$ 1,34 por metro quadrado.

O corretor de imóveis, Lintz Monteiro, trabalha no mercado imobiliário da região Serrana há 20 anos e garante que esses valores estão muito abaixo dos praticados na região. “O valor médio, a terra nua, sem considerar benfeitorias, vai girar em torno de R$ 8 a R$ 10 o metro quadrado”, afirmou.
Cesan

A Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan) explicou que a empresa responsável pela avaliação seguiu as normas técnicas para avaliar as terras.

“Foi contratado uma empresa especialista em avaliação em imóveis rurais, que fez as avaliações, os laudos, isso foi submetido a uma comissão, que aprovou esses valores. Nós estamos falando de 72 áreas, cada uma tem a sua particularidade. Existe norma e procedimento para estabelecer isso. A gente deixa claro que os laudos podem ser questionados”, disse o presidente da Cesan, Pablo Andreão.

Ainda segundo a Cesan, o projeto é importante para o estado. “Esse projeto beneficia a região de Domingos Martins, a região de Viana, e principalmente a Grande Vitória. Nós passamos por um racionamento em 2015 e isso é um projeto que volta a dar garantia de segurança hídrica a região metropolitana. Hoje estamos finalizando os elementos para licitação. Ele está caminhando e é, hoje, o projeto mais importante para a segurança hídrica do Espírito Santo”, completou Andreão.

G1 ES

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