O ato de cozinhar dentro de casa passou a ter um gosto mais salgado nos últimos meses com a nova política de reajustes de preços do GLP (Gás Liquefeito de Petróleo). Somente entre junho e outubro, o valor dos botijões de 13 kg saltou quase 50% e já é encontrado por R$ 110 nas revendedoras do País.
A adoção das novas remarcações de preço passou a valer no dia 7 de junho de 2017. Desde então, foram cinco altas e uma baixa no valor do produto, que resultam em uma disparada de 47,5% nas refinarias do País.
Ao consumidor final, a variação média verificada pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) para os botijões no período é de 7,56%. Em outubro, o preço médio encontrado para os itens de 13 quilos foi de R$ 61,72, com variação entre R$ 40 e R$ 110.
A alta verificada para os revendedores foi de 5,86% e, hoje, eles pagam, em média, R$ 43,30 por cada botijão de 13 quilos.
Ao avaliar os botijões como “produtos de utilidade pública”, o presidente da Asmirg (Associação Brasileira dos Revendedores de GLP), Alexandre Borjaili, classifica a série de altas como “totalmente abusiva”. Para ele, os sucessivos reajustes colocaram o gás de cozinha “em uma condição de produto de luxo”.
— Pegar um produto essencial à alimentação do povo brasileiro e subir dessa forma descabida é uma loucura. […] O gás de cozinha é um produto-base para poder alimentar de toda a população brasileira e está sendo tratado de forma irresponsável.
A Fundação Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor) diz que os reajustes não podem ser considerados ilegais porque o Brasil adota à “política de livre mercado” e as estatais podem aumentar os preços conforme suas necessidades.
Borjaili, entretanto, defende que a Petrobras deveria adotar uma postura “mais transparente” em relação aos reajustes.
— Ela [Petrobras] tem responsabilidade com a nação e com o povo brasileiro em geral e o governo federal deveria intervir em uma questão tão séria como essa. Falar em fome é uma coisa, ter fome é outra realidade.
Ao adotar a nova política, a petroleira afirmou que a nova política de reajuste não teria como referência a paridade de preços internacionais e fazia parte dos parâmetros do plano de planejamento estratégico da empresa. As divulgações, prometidas para o início de cada mês, no entanto, ocorreram duas vezes em setembro (altas de 12,2% e 6,9%).
A estatal destaca ainda que responde por cerca de 25% do valor final do produto, sendo 20% tributos e o restante do preço composto por distribuição e revenda (55%).
Em nota divulgada após o último reajuste da Petrobras, o Sindigas (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo) afirma que “a correção aplicada não repassa integralmente a variação de preços do mercado internacional”.
O órgão calcula que o preço dos botijões ainda está 6,08% abaixo da paridade de importação. Segundo o Sindigas, a disparidade ”inibe investimentos privados em infraestrutura no setor de abastecimento”.
Portal R7