Em depoimento na Justiça Federal de Curitiba nesta quarta-feira (13), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o ex-minisitro de seu governo Antonio Palocci “mentiu” em depoimento ao juiz Sérgio Moro. “Eu vi o Palocci mentir aqui essa semana”, afirmou. Para Lula, o ex-ministro citou seu nome apenas para reduzir alguns anos de condenação. “Fiquei com pena disso”.
Na ação, Lula é acusado de receber propina da empreiteira Odebrecht por meio da compra de um terreno para a nova sede do Instituto Lula e de um apartamento vizinho ao que mora em São Bernardo do Campo (SP).
Lula também afirmou a Moro:
- Que não solicitou a compra do apartamento vizinho ao dele em São Bernardo do Campo.
- Que visitou o terreno objeto da denúncia uma vez e que o achou inadequado.
- Que as três denúncias apresentadas contra ele pela força-tarefa da Lava Jato são “ilações”
Palocci
Palocci foi interrogado por Moro nesta mesma ação na semana passada e afirmou que Lula tinha um “pacto de sangue” com o dono da empreiteira Odebrecht, que incluia um “pacote de propinas” para o ex-presidente no valor de R$ 300 milhões.
Lula também negou as acusações do Ministério Público Federal (MPF) de que recebeu propina da Odebrecht e disse que a força-tarefa da Lava Jato quer transformá-lo no “power point” deles.
“Eles [a força-tarefa da Lava Jato] inventaram que o triplex era meu porque ‘O Globo’ disse e não é, o senhor sabe disso. Agora, inventaram que o apartamento é meu, e não é, e eles sabem disso. Como inventaram a história do sítio, que é meu, e não é. Ou seja, três denúncias do Ministério Público por ilação, porque eles têm a ideia de transformar o Lula no power point deles”, afirmou.
O ex-presidente se referia a uma das apresentações de denúncia feita pelos procuradores da Lava Jato contra Lula, na qual o nome dele aparecia no centro de um esquema de corrupção. O ex-presidente disse que vai provar ser inocente e espera um dia receber desculpa do MPF.
“Eu poderia ficar zangado, nervoso, mas eu quero enfrentar o Ministério Público, sobretudo a força-tarefa, para provar minha inocência. Eu só espero que eles tenham grandeza de um dia pedir desculpa”.
O interrogatório do ex-presidente na Operação Lava Jato terminou por volta das 16h20, depois de 2 horas e 10 minutos de depoimento, na sede da Justiça Federal, em Curitiba. Outro réu, o ex-assessor do ex-ministro Antonio Palocci, Branislav Kontic, foi interrogado logo depois de Lula.
Logo no início do interrogatório com o juiz federal Sérgio Moro, Lula afirmou que queria falar. Na condição de réu, ele poderia optar por ficar em silêncio. “Apesar de entender que o processo é ilegítimo e injusto, eu pretendo falar. Talvez eu seja a pessoa que mais queira a verdade neste processo”, afirmou o ex-presidente.
Em uma das ocasiões em que deu a palavra para Lula, Moro afirmou que não era hora de “discurso de campanha”. “O senhor gostaria de dizer alguma coisa ao final, Sr. ex-presidente? Só assim, senhor presidente [levanta a voz]: não é momento de campanha, não é momento de discurso, é para falar do objeto da acusação, se for o caso. Certo?”
Acusação
Esta é a segunda vez que Lula presta depoimento como réu em um processo da Lava Jato conduzido por Moro. A acusação é sobre um suposto pagamento de propina por parte da construtora Odebrecht.
Segundo a denúncia, a empresa comprou um terreno para a construção de uma nova sede para o Instituto Lula. A empreiteira também teria comprado um apartamento vizinho ao que o ex-presidente mora, em São Bernardo do Campo (SP). O imóvel é alugado desde 2002 e abriga, principalmente, os seguranças que fazem a escolta de Lula.
No caso anterior, quando Lula foi ouvido por Moro pela primeira vez como réu, ele era acusado de receber R$ 3,7 milhões em propina, de forma dissimulada, da empreiteira OAS. Em troca, ela seria beneficiada em contratos com a Petrobras. O ex-presidente acabou condenado naquela ação penal a nove anos e meio de prisão.
G1