
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou, nesta quarta-feira (29), a taxa básica de juros em 1 ponto percentual, subindo a Selic de 12,25% para 13,25%. Essa foi a primeira reunião de política monetária sob o comando do novo presidente do BC, Gabriel Galípolo, que assumiu o comando da autoridade monetária no início do mês no lugar de Roberto Campos Neto. Foi também a primeira reunião com a maioria dos diretores nomeados pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com apenas 2 dos 9 diretores do Copom nomeados pelo governo anterior de Jair Bolsonaro.
A decisão foi unânime. A próxima reunião do Copom ocorre em 18 e 19 de março, com o colegiado já indicando novo aumento de 1 ponto percentual, elevando a taxa Selic para 14,25% daqui a 45 dias. “A primeira reunião de Galípolo como presidente do BCB transcorreu sem intercorrências, apesar de demorar um pouco mais do que esperado”, aponta Luis Otavio Leal, economista-chefe da G5 Partners.
O comunicado foi mais enxuto e com poucas mudanças em relação ao comunicado da reunião anterior. “Comunicado manteve o tom hawkish”, diz Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos e planejador financeiro da The Hill Capital.
Houve uma mudança nos pontos de probabilidade de menor inflação no balanço de risco. No primeiro ponto, houve a substituição de “os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado” para “impactos sobre o cenário de inflação de uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada”.
“No limite o BCB espera, apesar de não estar explicitamente dito, uma desaceleração forte na economia que possa diminuir o hiato do PIB e assim controlar a inflação de serviços, bem como ancorar as expectativas”, aponta o economista André Perfeito, que acredita que a diminuição da atividade econômica “pode ser mais severa que simplesmente alguma acomodação da atividade”. Perfeito aponta o impacto da taxa de juros mais alta no elevado nível de alavancagem de famílias e empresas para novo potencial erro de projeção da atividade pelo mercado, desta vez “para baixo”.
A segunda mudança no ponto de risco de baixa de inflação foi para “um cenário menos inflacionário para economias emergentes decorrente de choques sobre o comércio internacional e sobre as condições financeiras globais”. “sse último é interessante porque mostra o BCB preocupado não apenas com os riscos inflacionários da política tarifária de Donald Trump, mas também com seus possíveis efeitos deflacionários”, aponta Leal da G5 Partners.
Os diretores do Copom apontam, no entanto, que “persiste uma assimetria altista no balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação”. O colegiado demonstra preocupação com a continuação da desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado, resiliência da inflação de serviços devido a um hiato do produto mais positivo e a uma taxa de câmbio mais elevada.
“O impacto cambial é amplificado em um contexto de expectativas desancoradas e hiato do produto positivo, cujo impulso fiscal e do crédito atuais limitam o efeito da contração monetária, o que evidencia a assimetria altista no balanço de riscos e exige uma política monetária restritiva”, avalia Maykon Douglas, economista especializado em análise de conjuntura local e internacional.
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