Sair pela porta da frente da universidade, pronto para encarar os desafios do mercado de trabalho. A tarefa é árdua, mas não é impossível. Isso é o que provam os universitários de 12 cursos voltados à área da Saúde de faculdades públicas e privadas do Espírito Santo, que conquistaram a nota máxima no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade).
Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (1°) pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que avaliou, em 2016, as competências e habilidades de mais de 216 mil estudantes finalistas, distribuídos em 997 instituições de ensino superior do país, nas áreas de Saúde, Ciências Agrárias e afins. A análise consiste na realização de uma prova de conhecimentos gerais e específicos pelos alunos, que também respondem a um questionário sobre a infraestrutura dos centros.
Dos 12 cursos nos quais os universitários garantiram a nota 5, classificada como excelente, metade são ofertados pela Universidade de Vila Velha (UVV): Fonoaudiologia; Tecnologia em Estética e Cosméticos; Medicina Veterinária; Nutrição; Farmácia e Fisioterapia. As outras seis graduações ficam a cargo de: Ufes (Odontologia e Farmácia); das Multivix Vitória e Cachoeiro de Itapemirim (Enfermagem e Biomedicina); da Unesc de Colatina (Biomedicina) e do Centro Universitário São Camilo, de Cachoeiro de Itapemirim (Farmácia).
Para o reitor da UVV, Heráclito Amâncio Pereira Junior, o saldo positivo deve-se a um conjunto de fatores, que incluem não só a oferta de infraestrutura de qualidade e tecnologia, mas, principalmente, ao trabalho de um corpo docente comprometido. “Este resultado é uma das formas de reconhecimento do nosso trabalho.”
Já para a estudante de Medicina Veterinária da UVV, Jéssica Stein, o mérito deve ser dividido. “A qualidade dos professores e o incentivo que temos para estudar mais é muito importante, mas os alunos também são muito dedicados”, explica ela, que fará a prova do Enade em 2019.
OUTRAS NOTAS
Também considerada como um alto padrão de desempenho, a nota 4 foi obtida por universitários de 32 cursos, em sua maioria ministrados pela Ufes, pela rede de faculdades Multivix e pela Unesc de Colatina, além de outras, como UVV, Salesiano e Emescam.
Somente na Ufes, estudantes de nove cursos – a exemplo de Nutrição, Fisioterapia, Enfermagem e Serviço Social – alcançaram a nota 4. Conforme afirma o secretário de avaliação institucional da universidade, Edebrande Cavalieri, o resultado é consequência de uma perspectiva de ensino voltada para a formação humana e profissional dos futuros formandos. “A perspectiva é de continuar alavancando ações e melhorias dos cursos”, ressalta.
Por outro lado, seis dos 22 cursos que receberam nota 3 também são da Ufes. Mas, apesar de evidenciar uma queda de performance dos estudantes, o número é considerado bom pelo Ministério da Educação (MEC). Cursos de Medicina, Enfermagem e Serviço Social da Emescam; bem como Enfermagem e Medicina, da Multivix; além de Nutrição, Fisioterapia e Enfermagem, do Salesiano, foram enquadrados na mesma categoria.
Embora nenhuma instituição de ensino superior tenha recebido nota 1, classificada como a pior pelo MEC, a nota 2 ainda é uma realidade entre alguns cursos do Estado, em sua maioria localizados no interior. Entre as graduações que obtiveram esta classificação, estão a Medicina e Medicina Veterinária da Unesc e o bacharelado em Educação Física das faculdades Pitágoras de Linhares e Guarapari.
MEDICINA: MAIORIA DOS CURSOS TIROU NOTA 3
Distantes de um conceito de excelência, mas também superiores a qualquer classificação negativa. Assim se enquadram a maioria dos cursos de Medicina avaliados pelo Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), em 2016. Com exceção dos alunos da Universidade de Vila Velha (UVV), que garantiram nota 4 no indicador, futuros médicos de disputadas instituições, como Ufes, Emescam e Multivix receberam nota 3 – considerada mediana – no teste.
Na avaliação do vice-presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM), Aloizio Faria de Souza, instituições que obtém esta nota possuem capacidade suficiente para formar profissionais capacitados.
“É muito difícil analisarmos, pois esta competência é do Ministério da Educação (MEC). Ao Conselho cabe fiscalizar o exercício ético da Medicina. A posição do CRM é que infelizmente, nos últimos anos, muitos cursos foram abertos indiscriminadamente por motivos políticos, mas não é o caso destes”, afirma.
Para o secretário de avaliação institucional da Ufes, Edebrande Cavalieri, a nota média acende um sinal de alerta. “Iremos verificar qual o sentido dessa nota 3 e que ações podem ser tomadas para melhorar essa nota.”
Segundo Edebrande, a análise da situação deve incluir a organização dos dados pedagógicos, que vão desde a oferta de disciplinas até a metodologia que é utilizada e as condições de infraestrutura da Ufes, a exemplo das condições de sala de aula e laboratórios. “Outro item, que causa menos preocupação é corpo docente, já que a maioria de nossos professores são mestres e doutores.”
MULTIVIX
Da mesma forma, o diretor administrativo da Multivix, Fernando Costalonga, classifica a nota 3 obtida pelos graduandos finalistas em Medicina como “média”. “Não é uma nota ruim, mas precisamos buscar melhorias. A educação é um processo de construção. Nos reuniremos com os conselhos dos cursos e coordenações para avaliarmos o que pode ser melhorado”, diz.
EMESCAM
Já a Emescam destaca que a formação de profissionais de Saúde é complexa e sua classificação não pode se basear apenas em um “exame nacional geral”. A instituição acrescenta que recebeu nota 5 na avaliação de conceito institucional do Ministério da Educação na última semana.
“Esta nota é resultado de visita presencial da Comissão Avaliadora do Inep, sendo considerada a forma mais precisa e inquestionável de avaliação da qualidade de uma faculdade, pois é fruto de uma análise minuciosa da Instituição. Quanto a nota do Enade, ela será analisada pelo nosso Núcleo de Assessoria Pedagógica, após a divulgação do relatório de final do Inep”, afirma a instituição, que também garante: “Continuaremos a formar profissionais com competência ética, técnica e, principalmente, humana”.
ANÁLISE
“Considerar se os cursos das instituições receberam conceito um, dois, três, quatro ou cinco não faz diferença para identificar experiências exitosas e deficiências dos cursos. Avaliar as instituições a partir do desempenho demonstrado por alunos concluintes de graduação não reflete a sua realidade, uma vez que, apesar da obrigatoriedade do exame, não há garantias de que os alunos que participam dele realmente se dedicam a demonstrar o que aprenderam no decorrer do curso. O exame centra a avaliação no desempenho individual dos estudantes, reduzindo, assim, os problemas das instituições como meramente de organização curricular” – Cleonara Maria Schwartz Professora do programa de pós-graduação em Educação da Ufes